Depoimento de Delcídio do Amaral, combinado a provas como
mensagens eletrônicas e extratos telefônicos, reforçam a convicção dos
investigadores de que o ex-presidente coordenou operação para comprar o
silêncio de uma testemunha que poderia comprometê-lo
Parceria: Em acordo de delação premiada, o ex-senador
Delcídio do Amaral revelou que seguia ordens do ex-
presidente (Ricardo
Stuckert/Instituto Lula/VEJA)
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Em sua última aparição pública, na manhã de quinta-feira,
Lula estava abatido. Cabelos desgrenhados, cabisbaixo, olhar vacilante,
entristecido. Havia motivos mais que suficientes para justificar o
comportamento distante. Afinal, Dilma Rousseff, a sucessora escolhida por ele
para dar sequência ao projeto de poder petista, estava sendo apeada do cargo. O
fracasso dela era o fracasso dele. Isso certamente fragilizou o ex-presidente,
mas não só. Há dois anos, Lula vê sua biografia ser destruída capítulo a
capítulo. Seu governo é considerado o mais corrupto da história. Seus amigos
mais próximos estão presos. Seus antigos companheiros de sindicato cumprem pena
no presídio. Seus filhos são investigados pela polícia. Dilma, sua invenção,
perdeu o cargo. O PT, sua maior criação, corre o risco de deixar de existir. E
para ele, Lula, o futuro, tudo indica, ainda reserva o pior dos pesadelos. O
outrora presidente mais popular da história corre o risco real de também se
tornar o primeiro presidente a ser preso por cometer um crime.
VEJA teve acesso a documentos que embasam uma denúncia
oferecida pela Procuradoria-Geral da República contra o ex-presidente. São mensagens
eletrônicas, extratos bancários e telefônicos que mostram, segundo os
investigadores, a participação de Lula numa ousada trama para subornar uma
testemunha e, com isso, tentar impedir o depoimento dela, que iria envolver a
ele, a presidente Dilma e outros petistas no escândalo de corrupção na
Petrobras. Se comprovada a acusação, o ex-presidente terá cometido crime de
obstrução da Justiça, que prevê uma pena de até oito anos de prisão. Além
disso, Lula é acusado de integrar uma organização criminosa. Há dois meses,
para proteger o ex-presidente de um pedido de prisão que estava nas mãos do
juiz Sergio Moro, responsável pela Operação Lava-Jato, a presidente Dilma
nomeou Lula ministro de Estado, o que lhe garantiu foro privilegiado. Na semana
passada, exonerado do governo, a proteção acabou.
Há várias investigações sobre o ex-presidente. De tráfico
de influência a lavagem de dinheiro. Em todas elas, apesar das sólidas
evidências, os investigadores ainda estão em busca de provas. Como Al Capone, o
mafioso que sucumbiu à Justiça por um deslize no imposto de renda, Lula pode
ser apanhado por um crime menor. Após analisar quebras de sigilo bancário e
telefônico e cruzar essas informações com dados de companhias aéreas, além de
depoimentos de delatores da Lava-Jato, o procurador-geral Rodrigo Janot
concluiu que Lula exerceu papel de mando numa quadrilha cujo objetivo principal
era minar o avanço das investigações do petrolão. Diz o procurador-geral:
"Ocupando papel central, determinando e dirigindo a atividade criminosa
praticada por Delcídio do Amaral, André Santos Esteves, Edson de Siqueira
Ribeiro, Diogo Ferreira Rodrigues, José Carlos Costa Marques Bumlai e Maurício
de Barros Bumlai (...), Luiz Inácio Lula da Silva impediu e/ou embaraçou a
investigação criminal que envolve organização criminosa".
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