Com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
emparedado, e parlamentares enrolados até o pescoço na Lava Jato, as
investigações não interessam a mais ninguém no Congresso.
Com três liminares, portanto provisórias, o Supremo
delimitou ritos para um processo de impeachment.
Em resumo, disse a Eduardo Cunha, mais ou menos, isso: o Senhor preside a
Câmara, mas não pode, ao mesmo tempo, ser dono do campinho e da bola... Ou, das
bolas.
A decisão provisória dos juízes embute e permite outra leitura: não bastam
manchetes para derrubar um governo e anular 54 milhões de votos.
O ministro Teori Zavaski ensinou: em processo de tamanha magnitude
institucional é pressuposto elementar observar a devida legalidade e não
existir qualquer dúvida jurídica.
Seguiram-se barulhos e silêncios nada inocentes.
De 62 deputados do PT, 32 assinaram Representação pela cassação de Eduardo
Cunha...
Representação esta ao Conselho de Ética apoiada por apenas 46 dos 513
deputados, 9% da Câmara.
A direção do PT se calou, alegando... "prudência"...diante de Cunha.
E nem um dos 54 deputados do PSDB e 21 do DEM assinou o pedido de cassação de
Eduardo Cunha.
Aécio Neves disse caber a Cunha "se defender das gravíssimas
acusações", e que "o foco é o PT"...
Claro. Os demais, todos eles, certamente são inocentes... apesar do silêncio
Em sua casa, Eduardo Cunha recebeu lideranças da oposição que busca derrubar
Dilma para chegar ao poder.
Expert nos semelhantes, Cunha deixou todos nus escancarando com admirável
crueza:
-Se eu derrubo Dilma agora, no dia seguinte vocês é que vão me derrubar...
É disso, quedas ou não, que nesse momento se trata.
Se o impeachment chegar ao plenário da Câmara, na largada, a primeira etapa, a
presidente Dilma precisará de 171 votos em 513 para manter a presidência.
Já Eduardo Cunha joga para vencer a Representação no Conselho de Ética. Que ele
controla.
Se perder e a Representação chegar ao plenário, Eduardo Cunha precisará de 257
votos em 512.
A votação é aberta, numa Câmara que, até aqui, ele transformou na Cunholândia.
À parte isso, o Supremo Tribunal deve decidir se Eduardo Cunha será ou não
investigado com base nas delações, contas na Suíça etc...
O vice-presidente da República do mirante da crise espia o
hospício do Planalto. Ele dá declarações pró-governo aqui e contra acolá. Diz
que não tem clima pra impeachment, mas espera ávido pela cadeira da
presidência. Entenda os bastidores e o papel do mestre na arte de engolir sapos
com Joice Hasselmann.