A conta é dela, mas nós é que estamos pagando: os
erros da política econômica do primeiro mandato de
Dilma Rousseff expuseram o país à
tormenta
(Alan Marques/Folhapress)
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Os indicadores da economia brasileira apontam para uma
recessão prolongada. O tombo será ainda mais profundo caso o governo não
recupere rapidamente a confiança dos investidores nem consiga evitar o
rebaixamento da nota de crédito do país
As análises econômicas mais realistas e desapaixonadas
indicavam, fazia algum tempo, que a crise na economia brasileira era um
acidente prestes a acontecer. Por seis anos seguidos, o governo pisou fundo
demais no acelerador dos gastos públicos e aliviou o pé no freio do controle da
inflação. Em pouco tempo, arruinou a confiança construída em duas décadas de
ajustes e reformas - sem falar nas manobras na contabilidade federal. Ao
assumir o Ministério da Fazenda, Joaquim Levy apresentou um plano para evitar o
desastre, como o personagem do filme Juventude Transviada que escapa da morte
ao saltar do carro momentos antes da queda no desfiladeiro.
Por alguns meses, parecia que Levy seria bem-sucedido. O ministro
procurou extinguir os trambiques do antecessor e propôs uma série de medidas
para reforçar o caixa do governo e impedir um rombo ainda maior nas finanças
públicas. A iniciativa seria um primeiro passo para arrumar a casa e retomar os
projetos de longo prazo para incentivar o crescimento econômico. O clima
político hostil, entretanto, atrapalhou os planos do ministro. Quanto mais
frágil a situação da presidente Dilma Rousseff e maior o envolvimento de
políticos da base aliada nas revelações da Lava-Jato, menor a disposição do
Congresso para aprovar ajustes impopulares. O tempo sobre a economia brasileira
já estava fechado. Agora, o país está sob a ameaça de lidar com uma verdadeira
tempestade perfeita.
O Brasil não é tão vulnerável como no passado, mas entrou
avariado na trovoada. O povo brasileiro já percebeu, em seu dia a dia, o
aumento no custo de vida, a dificuldade para quitar dívidas, o desemprego de
pessoas conhecidas. O pior, entretanto, está por vir. Principalmente se as
medidas de austeridade nas contas do governo não forem aprovadas. Na semana
passada, a agência americana de classificação de risco Standard & Poor's
reduziu para negativa a avaliação do país. Existe agora uma probabilidade
elevada de rebaixamento da nota do Brasil, possivelmente no próximo ano. Se
assim for, o país perderá, na avaliação da S&P, o status de grau de
investimento. E o que isso significa? A economia deixará de ter acesso ao
crédito farto e barato dos mercados internacionais. Os maiores fundos de pensão
estrangeiros restringem a aplicação em países sem o grau de investimento. Em
vez de ficar mais próximo de países como os Estados Unidos, a Alemanha ou o
Chile, o Brasil seria rebaixado para o grupo de caloteiros contumazes, que
inclui a Grécia, a Argentina e a Venezuela.
Não é apenas o governo que é afetado. As
empresas brasileiras também serão vistas como investimentos especulativos. Ao
pôr a nota do país em perspectiva negativa, a agência fez o mesmo para 41
empresas locais. Entre elas figuram companhias que, a despeito do cenário