sábado, 19 de setembro de 2015

Quem sabe faz a hora

Por Maynard Marques de Santa Rosa

O Brasil enfrenta uma crise de final de ciclo, caracterizada pela fadiga de um modelo político. Em 1947, nas aulas que ministrou na Universidade de Indiana (EUA), o sociólogo Gilberto Freyre traduziu o fenômeno: “Trata-se da fadiga do povo em face de seus líderes, que induz os mesmos efeitos da fadiga industrial entre os operários”.

A catarse deflagrada pela operação “Lava-Jato” invalida a governabilidade e alimenta a pressão por mudança, surpreendendo a oposição. O Eclesiastes prevê que: “Tudo tem o seu tempo determinado: há tempo de plantar e de colher”. O petismo já colhe os frutos da rejeição. O escândalo de cada dia, tornado rotina pelo ruído da mídia, transfere o noticiário policial para a agenda política, a ocupar o espaço de debate das questões nacionais.

Com o centro de decisão paralisado, aprofunda-se a recessão econômica, mas o ambiente político continua estagnado: muita discussão e pouca decisão. Mantidos os parâmetros atuais, nada se pode esperar dos atores políticos, salvo a insegurança jurídica que nasce dos surtos incoerentes de um governo desnorteado.

Os sintomas de alienação do governo já se faziam notar no final do ano passado. Em novembro, durante entrevista ao “Globo News”, o ministro Mercadante, indagado sobre a posição da presidente nas eleições para o comando da Câmara dos Deputados, respondeu com uma arrogância sintomática: “A presidenta (sic) vetou o nome de Eduardo Cunha para presidente da Câmara”.

O poder executivo não é capaz de discernir a realidade. As atitudes inseguras da mandatária encaixam-se no terceiro caso da classificação de Maquiavel sobre líderes políticos: “Há três tipos de cérebro: o que compreende por si só, o que discerne aquilo que outros compreendem e o que não compreende nem por si só nem por meio dos outros. Este último não serve para ser príncipe” (O Príncipe, cap. XXII).

Enquanto isso, os partidos permanecem inertes, mais preocupados em negociar as próprias conveniências do que em assumir a responsabilidade que lhes foi confiada. Certamente, há expectativas paralisantes, pelo envolvimento de novos atores nas fraudes milionárias, sobretudo, no universo dos avalistas do regime. Além disso, a cultura nacional indica que o papel do povo nas crises do poder sempre foi irrelevante.

No entanto, a opinião pública ganhou consciência da situação, antes mesmo dos seus representantes políticos, e já clama por mudança, o que torna perigoso um possível “acordão”. A paciência diminui na justa proporção do desemprego e da taxa de inflação.

Esgotada a esperança, pode eclodir o protagonismo das massas, invariavelmente, cego, arquetípico e vulnerável ao oportunismo e à baderna. Afinal, mantém-se viva a sugestão longamente inculcada: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer!”.


Fonte: Alerta Total

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Maynard Marques de Santa Rosa é General de Exército, na reserva.

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