Por Percival Puggina
O país tornou-se um espectro do que já foi. Há mais de
duas décadas as expectativas em torno da economia nacional não andavam tão
baixas. Foi tanta coisa errada ao longo dos últimos 13 anos, tanto abuso
praticado com os recursos dos contribuintes, tanta corrupção, que cresce no
país a ideia segundo a qual está em curso um plano maligno, ainda mais maligno
do que o resultado obtido até aqui. Quem sustenta essa opinião está convencido
(e tem bons motivos para estar) que tamanho desastre exige cuidadoso
planejamento e primorosa execução.
A frase que dá título a este artigo sustenta a tese. Bem
entendida, vale por uma confissão. Se a presidente nada fez de errado, então
fez tudo certo e as ações de seu governo, de seus auxiliares diretos e de seu
partido levaram o país deliberadamente ao caos (e ainda há quem afirme que
“golpe” é propor seu impeachment!). Na outra hipótese, ela não tem ideia do que
diz nem do que fez e supôs que o Brasil fosse uma lojinha de tudo por R$ 1,99.
Nesse caso, quem a indicou para presidir a república tinha que estar enfiado em
camisa-de-força. Dilma desmente a tese segundo a qual cada povo tem o governo
que merece. Eu sei, o povo brasileiro elegeu quatro governos petistas, de corrida,
um atrás do outro. Mas nem por isso merece tamanho castigo.
Malgrado o caos que se instalou no país, o completo
desacerto do governo em relação ao modo de enfrentar a situação, a presidente
agarra-se ao cargo como se sua permanência fosse mais importante do que o bem
do país. O afastamento voluntário, pelo qual a nação anseia, torna-se
impensável por exigir grandeza moral que não encontra medida na régua petista.
Diante de tudo que se sabe, parece inadmissível não haver
previsão legal para fundamentar um processo político de impeachment contra quem
deteve e detém poder de mando e função de controle sobre o corpo e o espírito
do governo. Como pode não ser crime de responsabilidade comandar uma
administração onde a probidade era a exceção? Como pode não ser crime de
responsabilidade atentar contra a lei orçamentária? São perguntas que se faz
todo cidadão medianamente informado. Então vale a informação: tudo isso é
crime, sim, em todas as leis que tratam da matéria, como muito bem está
salientado no pedido de impeachment formulado pelos juristas Hélio Bicudo e
Miguel Reale Jr.
Volto, então, à frase do título. Ou a presidente tem
responsabilidade, ou é irresponsável. Em nenhum dos dois casos deve permanecer
no cargo por sobradas razões jurídicas e políticas. Isso para não mencionar a
dignidade nacional nem as urgências sociais e econômicas.
__________________
Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é
arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista
de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra
o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do
grupo Pensar+.
Nenhum comentário:
Postar um comentário