Por Gen Div Synésio Scofano Fernandes
1. Agora , estão em uso procedimentos mais sofisticados para iludir as pessoas
ansiosas, que têm necessidade de se alimentar, de educar seus filhos, de
comprar seus remédios, de sobreviver com o mínimo de dignidade, de continuar
a ter esperança.
O primeiro procedimento inovador na técnica da ilusão é
anunciar um aumento de 22%, 25%, 30% ou de 40%. Números, que , por seus
valores , estão muito longe de resolver o problema salarial dos militares
federais, mas que poderiam atenuar a situação aflitiva em que estão vivendo
desde 2004.
Mas, a perversidade da técnica está em ocultar, no primeiro
momento , o fato de que os 22% ou os 25% serão concedidos em parcelas anuais -
três, quatro, cinco ou de, então, quando se descobre a hipocrisia,
verifica-se que 25%, em quatro parcelas anuais, corresponderia a algo entorno
de 5,9 % por ano. Quer dizer, um aumento de R$ 200,00 nas remunerações
líquidas de 70% dos segundos sargentos do exército brasileiro, de R$ 400,00
naquelas de 70% dos capitães e de R$ 600,00 nas dos coronéis ( dados de julho
de 2015), quantias que não chegam a cobrir sequer a provável inflação no
período.
Com essa mágica de prometer à vista e pagar em prestações
anuais dá-se como resolvido o problema salarial dos militares : a ansiedade
desaparecerá e a administração empurra, “para debaixo do tapete”, os vestígios
de sua incompetência .
O problema é que as dificuldades aumentam gradativamente,
exigindo providências cada vez mais amplas, profundas e inexequíveis.
2. O segundo procedimento inovador do ilusionismo refere-se à
expressão “EXPANSÃO
SALARIAL”.
Ora, essa visão otimista inverte o sentido do que está
acontecendo.
Na verdade, os militares, para se igualarem à categoria de
servidor público federal com a pior remuneração média, necessitam de um
aumento linear, nos valores dos soldos, de 50%, a ser concedido em um exercício
financeiro.
A “expansão” de que se fala é na despesa com a remuneração
dos militares.
Essa expansão da despesa poderá decorrer de aumentos nos
valores dos soldos e de algumas outras migallhas a serem oferecidas, tudo no
limite de 25%.portanto,é bem possível que o aumento linear, a ser concedido,
alcance um percentual, por ano, menor que 5,9%, como o anteriormente
referido.
3. Mas qual a constatação que emerge dos dados oficiais
divulgados?
Em fevereiro de 2004, os militares federais percebiam uma
remuneração média equivalente a 110% à da administração direta ( menor
remuneração em todo o serviço público federal) e a 88% à dos servidores civis
em geral (pag 60 do nº 94 , do boletim estatísico de pessoal do MPOG).
Em fevereiro de 2015, essas relações passaram a ser de
67,35% no que se refere à administração direta e à 63,47% no que diz respeito
aos servidores civis em geral (boletim estatístico nº 226, página 66, do MPOG)
.
De 2004 a 2013, as despesas com o pagamento do pessoal
militar decaíram de 1,18% do PIB para 0,83% do PIB, enquanto as despesas com a
remuneração dos servidores civis e com as dos servidores da administração
direta, no período, permaneceram estáveis em relação ao PIB.
Esse declínio impressionante - de 1,18% para 0,83% do PIB -
impediu que fossem aplicados à remuneração dos militares, só em 2014 , cerca
de 19 bilhões de reais, quantia que permitiria elevar o salário dos militares
aos níveis da administração direta, categoria com a menor remuneração em todo
o serviço público federal.
De 2004 a 2015, a administração direta teve um aumento
cumulativo de cerca de 250 % , os servidores civis, em geral, tiveram 201% e
os militares 116%.
Essa disfunção salarial degradante dos militares, em
relação a todos os detentores de cargos públicos em nível federal tem sido
exaustivamente levada ao conhecimento das autoridades responsáveis pelo assunto
e, em virtude da dimensão que assumiu, não será resolvida com pequenos
arranjos, com manobras ilusionistas.
4. Onde está o dinheiro ?
Será que foi aplicado na elevação dos salários dos
professores ?
Foi investido na educação, na saúde pública, na segurança
pública, no bem-estar social ?
Ou ,com pés estranhos, percorreu outros caminhos menos
nobres e agora, que seja uma pequena parcela , faça parte de uma conta bancária
no exterior?
Será isso possível?
O fato é que o soldado é um brasileiro. É um ente que vive, percebe, convive em uma sociedade, assiste à televisão, lê jornais, tem
amigos .é um ente social e não pode reprimir a repulsa aos fatos que se
desenrolam diuturnamente. Não se trata de um posicionamento político mas um
desencanto que agride a pessoa e é percebido por todos que fazem parte de um
grupo social.
5. Como, nesse quadro, conclamar à paciência , à tolerância
, à compreensão com a situação econômica – chavões exaustivamente já evocados
em outras ocasiões – para que o militar se conforme com as migalhas a serem
concedidas?
Como reprimir a revolta contra a iniquidade a que está
submetida a família militar, quando a malversação dos recursos públicos
prossegue intocável e nos pedem a tolerância?
Na pedagogia dos valores , o nível mais elevado de
aprendizagem é o de aplicar as atitudes adequadas às circunstâncias que
sustentam e circunscrevem uma determinada situação.
Na quadra em que vivemos , a circunspecção, a sobriedade ,a
tolerância são antes indicadores de alienação mental do que de sabedoria e
sensatez.
O alienado com seu olhar, ao mesmo tempo, fixo e perdido ,
mirando os céus, enquanto, ao seu redor, a hipocrisia, a mentira, a
desfaçatez, o roubo se apoderam do tecido social.
6. Será que nos tornamos ingênuos ou obliterados a ponto de
acreditar que todas as categorias de servidores (do executivo , do legislativo
e do judiciário) serão submetidas ao teto de 21% , em quatro parcelas? Será que
alguém pode crer nesse desatino?
Como ocorreu em dezembro de 2012 e em outras ocasiões ,
serão submetidos aos limites de 21% ou 25% , em quatro parcelas, aqueles
servidores que por falta de vontade política ou liderança não conseguirem impor
os seus interesses.
Essa é a regra do jogo, em um ambiente de hipocrisia e de
carência do interesse pelo bem público.
Afinal, os nossos doentes, idosos, desvalidos, as nossas
pensionistas, os nossos valorosos combatentes,companheiros de uma vida toda,
têm de ser protegidos do lamaçal em que estamos atolados.
ONDE ESTÁ O DINHEIRO ?
Fonte: A Verdade Sufocada
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