domingo, 23 de agosto de 2015

Em quatro capítulos, a história que começou com a bomba de festa junina usada para intimidar Danilo Gentili e acabou com um pito do juiz no bando do Instituto Lula


CAPÍTULO I

No primeiro capítulo, o humorista Danilo Gentili inspirou-se na informação de que o Instituto Lula fora vítima de um atentado a bomba para postar no Twitter, em 31 de julho, a piada reproduzida abaixo:

DANILO - recorte

CAPÍTULO II

Em 13 de agosto, o Instituto Lula entrou com um pedido de interpelação judicial contra Gentili. O redator da notícia divulgada no site do esconderijo oficial de Lula caprichou no dilmês primitivo:

“O Instituto Lula protocolou, nesta quinta-feira (13), um pedido de interpelação judicial contra o apresentador de TV Danilo Gentili. Em seu perfil pessoal no Twitter, o pretenso comediante ironizou o ataque a bomba sofrido pelo Instituto no fim de julho ao afirmar que o atentado teria sido “forjado” para que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se “fizesse de vítima”.
Gentili concluiu sua fala grosseira com a afirmação de que o resultado do ataque teria sido que as pessoas lamentarem o fato de a bomba não ter atingido o ex-presidente. Há duas semanas, a Polícia Civil investiga o atentado, ainda sem resultados.
A interpelação judicial é um procedimento anterior à ação judicial, com o objetivo de oferecer a Gentili a oportunidade de explicar suas palavras, provar suas afirmações ou se retratar. Os advogados do Instituto apresentaram seis perguntas que gostariam de ver respondidas por ele: 
A conta @DaniloGentili pertence ao suposto humorista? 
O comentário publicado nesse perfil é de autoria de Gentili? 
Mais alguém participou da elaboração desse comentário? 
Gentili tem algum elemento de prova de que o atentado ao Instituto teria sido forjado? Se sim, qual? 
Qual foi a intenção de dizer que o atentado foi forjado?
Gentili confirma o comentário ou gostaria de se retratar?
A partir da resposta do apresentador serão avaliadas as possibilidades de processo cível ou criminal contra Gentili”.

CAPÍTULO III

Nesta quarta-feira, 19 de agosto, Gentili publicou em sua página no Facebook a resposta que desmoralizou o chilique dos que sonham com a revogação da liberdade de expressão e da independência intelectual:

“Um pretenso instituto publicou uma nota cobrando de mim (um pretenso humorista segundo eles) esclarecimentos a respeito de uma piadinha no twitter sobre um pretenso atentado a bomba na sede do “instituto” que teve como consequência gravíssima um furinho no portão.
Mesmo sendo do conhecimento de todos que me seguem nas redes sociais que sou humorista e que através dessas plataformas utilizo exageros, nonsense e outros recursos sempre com a intenção de brincar, reforço que levar a sério o que eu escrevo lá é tão racional quanto tentar prender a Cássia Kiss (não a Leila) por ter matado a Beatriz Segall (não a Odete Roitman). Ou tão irracional quanto dizer que não existe uma meta mas que quando atingir a meta dobrará essa meta.
Eu sou comediante. Tudo bem, talvez comediante não seja uma profissão tão nobre assim como tesoureiro do PT ou como Presidente da República (uma cargo tão respeitado por todos os brasileiros no momento). Comediantes fazem P-I-A-D-A-S. E isso (ainda) não é crime. Mas, cabe uma reflexão: a dificuldade de alguns em compreender isso estaria diretamente relacionada ao declínio da educação no país? Afinal, o Brasil ocupa o 60º lugar entre 76 países listados no ranking de educação, ficando atrás de Irã e Cazaquistão. O pretenso governo responsável por tal índice adotou o slogan “Pátria Educadora” (atenção ─ essa piada não é minha). Sendo assim, não é de se espantar que a todo momento um humorista precise vir a público explicar que geralmente quando fala absurdos é com a intenção de brincar. Só para ilustrar, outro dia mesmo, assisti a um pessoalzinho escandalizado com uma piadinha no twitter e, logo depois, vi essas mesmas pessoas defendendo o Zé Dirceu como herói apesar da comprovação de seus crimes. Tudo leva a crer que a péssima qualidade do ensino realmente comprometeu a capacidade cognitiva de alguns. Ou, então, teremos de admitir que vivemos em um ambiente extremamente hostil à liberdade de expressão. Que diga Larry Rohter! Por essas e outras não me assusta mais saber que vivemos em um tempo no qual uma twittada é vista como algo mais grave do que o roubo de dinheiro público, que afeta principalmente a população mais carente – a qual essas mesmas pessoas dizem defender.
Porém, o que me surpreendeu nessa história toda foi a grande importância atribuída a mim, um (pretenso) humorista por uma “instituição” como essa. E se conseguirem coagir um humorista que declaradamente pede para não ser levado a sério, na sequência, irão atrás de quem? Caso seja verdade que o pretenso instituto apresentou medida judicial, responderei em juízo o que me foi perguntado.
No entanto, sabendo agora que entre todas as suas importantíssimas atividades o “instituto” também se dedica a pedir esclarecimentos públicos sobre assuntos de relevância nacional, como brincadeiras no twitter, aproveito a oportunidade neste privilegiado espaço para pedir que ajudem também a responder à outras 6 questões, certamente bem menos graves do que as minhas piadinhas:
1- Conforme noticiado recentemente, um número de telefone deste pretenso instituto proporcionou uma ligação entre Lula e Alexandrino Alencar (preso na Lava-Jato). Quando o Estadão pediu maiores esclarecimentos, negaram-se a dar. Poderiam esclarecer agora as relações de Lula com as empreiteiras envolvidas na operação Lava-Jato?
2- O “instituto” pode esclarecer se tem Zé Dirceu como um herói nacional ou o considera um criminoso tal qual reconheceu o Supremo Tribunal Federal?
3- O pretenso instituto poderia ajudar a esclarecer o enriquecimento astronômico do filho do ex-presidente cujo nome empresta a vocês?
4- O pretenso instituto confirma o relatório do COAF (Controle de Atividades Financeiras do Ministério da Fazenda) considera a movimentação da empresa de Lula incompatível com seu faturamento?
5- O pretenso instituto poderia pressionar os órgãos competentes para ajudar a esclarecer melhor o assassinato de Celso Daniel e todas as pessoas que tiveram contato com ele?
6- Além de pedir esclarecimentos sobre piadinhas de twitter e lançar nota de repúdio contra um boneco gigante do Lula presidiário nas manifestações do último domingo, para que mais serve o “instituto” Lula?
Agradecendo ao pretenso instituto que me proporcionou esse maravilhoso palanque me despeço anunciando que quem quiser ler novas piadinhas pode me seguir no twitter @danilogentili”.  

CAPÍTULO IV

Nesta quinta-feira, 20 de agosto, o juiz Carlos Eduardo Lora Franco, da 3ª Vara Criminal Central, encerrou o caso com um despacho exemplarmente didático:

“Não é possível criminalizar-se, ou censurar-se, a piada.
Só isso já basta, e na verdade impõe, a rejeição liminar do presente pedido de explicações pela evidente ilegitimidade ativa.
Nem se faz necessário, então, mencionar que é notório que o interpelado é um comediante, e assim mais que óbvio que aquela frase nada mais é do que uma evidente piada. Fosse tal afirmação na rede social de um jornalista respeitado e de credibilidade, tais como William Waack, ou Miriam Leitão, por exemplo, sem dúvida alguma se poderia cogitar de algum crime contra a honra. Mas no Twitter de um comediante, como notoriamente é o requerido, ninguém, obviamente, iria levar tal informação a sério imaginando que ele tem informantes e está fazendo uma revelação importante.
Nem se faz necessário, também, mencionar que, por outro lado, num país com histórico de tantos “aloprados” de direita e esquerda forjando fatos para prejudicar grupos opostos, no qual inclusive já houve um caso de ataque a bomba feito por um grupo para incriminar outro (caso Rio Centro), trazer à tona tal possibilidade e discussão é algo até saudável historicamente.
Nem se faz necessário, mais, observar que o Brasil vive um momento de patrulhamento sem precedentes, e que o Poder Judiciário deve estar atento a não se transformar, especialmente através de ações penais privadas, em forma de pressão e intimidação de poderosos contra quem deles diverge ou os incomoda”.

EPÍLOGO

Os censores de piadas quebraram a cara. Os liberticidas descobriram que manifestações de humor estão fora do Código Penal. Os arrogantes sem cura tiveram de engolir sem engasgos a tréplica de Gentili. E ainda por cima foram desmoralizados pelo pito do juiz.


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