quinta-feira, 16 de julho de 2015

O porto secreto do Irã na Venezuela

Por Antonio Maria Delgado

A base seria o lar de silos de mísseis balísticos de médio alcance.

O projeto venezuelano de aviões não-tripulados - conhecidos como M2 - está a cargo do engenheiro da Guarda Revolucionária Iraniana, Ramin Keshavarz.

O porto secreto do Irã em Paraguaná, Venezuela, está a apenas 1.880 quilômetros de Miami: a 3.095 quilômetros de Washington DC e a só 988 quilômetros da cidade de Bogotá, Colômbia.

O sistema de foguetes iranianos está capacitado para alcançar facilmente essas distâncias. Só resta saber se o Irã desenvolveu ogivas nucleares para armar seus mísseis. Deve-se levar em conta que o sistema missilístico iraniano de longo alcance classe Shahab-3, pode alcançar alvo de até 5.000 quilômetros.

O governo venezuelano cedeu ao Irã desde há cinco anos o uso de um estaleiro na Península Paraguaná, que é usado pelo país islâmico como porto privado para ingressar equipamentos e material sob um manto secretíssimo, disseram fontes próximas à situação.

O estaleiro Astinave encontra-se no ponto geográfico venezuelano mais próximo dos Estados Unidos e do Canal do Panamá, enquanto que a península foi identificada por fontes de inteligência ocidentais - citadas em duas reportagens do diário alemão Die Welt - como o lugar escolhido pelo Irã para colocar alguns de seus mísseis balísticos de médio alcance.

Um documento obtido por El Nuevo Herald assinala que o governo venezuelano contratou a empresa Iranian Offshore Engineering & Construction Company (IOEC) para que ampliasse o estaleiro, situado no estado Falcón, e que havia sido previamente expropriado pelo governo de Hugo Chávez. O documento - assinado em 2010 por Asdrúbal Chávez, primo do presidente, representando a PDVSA Naval - contempla a construção de um pátio para a fabricação de plataformas.

Porém, fontes próximas à situação disseram que o pessoal iraniano nunca saiu das instalações, enquanto que os empregados venezuelanos que se encontravam lá, foram enviados para suas casas e nunca se lhes permitiu voltar, em que pese que continuam recebendo seus salários. “O contrato é só uma cobertura, o mecanismo utilizado para justificar a presença do pessoal iraniano. Porém, no momento em que foi assinado, em 2010, no momento em que isso ocorreu, o Irã passou a ter controle absoluto de um porto totalmente independente da Venezuela”, disse uma das fontes que falou sob a condição do anonimato.

“É um estaleiro, mas ao ter os guindastes que tem e ao ter o dique que tem, não necessitas atracar nenhum navio em Puerto Cabello, nem em La Guaira, nem em Güiria, nem em Maracaibo porque já controlas um. Só tu e exclusivamente tu”, disse a fonte. Outra fonte, pertencente à Armada venezuelana, disse que um elevado número de contêineres foi recebido por navio em Astinave e que os contêineres já vazios foram colocados de um lado das instalações, onde permanecem no esquecimento.

A prática chama a atenção devido aos elevados custos dos contêineres que normalmente passam pouco tempo vazios antes de ser devolvidos ou usados para carregar nova mercadoria. O Irã, cujo ex-presidente Mahmud Ahmadinejad se reuniu com Chávez em Caracas, conduz várias misteriosas operações bélicas na Venezuela, inclusive o desenvolvimento de um avião não-tripulado.

Documentos obtidos previamente por El Nuevo Herald e fontes próximas à situação, revelaram que o projeto venezuelano de aviões não-tripulados - conhecidos como M2 - está a cargo do engenheiro da Guarda Revolucionária Iraniana, Ramin Keshavarz, que antes trabalhou em uma das companhias de defesa do país islâmico que foram sancionadas internacionalmente por sua provável relação com os programas de mísseis. Essas operações estão atualmente sendo investigadas pelas autoridades norte-americanas.

Segundo uma série de artigos publicados por Die Welt, Irã e Venezuela teriam assinado um pacto secreto para a construção de uma base missilística na península de Paraguaná. Sob as condições do pacto, as instalações seriam operadas por pessoal iraniano e o país islâmico estaria em condições de fazer uso dos mísseis contra os Estados Unidos em caso de ser atacado pelo Ocidente.

O diário alemão disse, citando fontes de inteligência ocidentais, que a base seria o lar de silos de mísseis balísticos de médio alcance. O Irã atualmente conta com um míssil balístico com um alcance de 1.280 quilômetros, o Shahab-3, e uma variante deste modelo com um alcance de 1.930 quilômetros, e desenvolve o mais moderno Ghadr-110, com um alcance de mais de 2.500 quilômetros. O Departamento de Estado disse há alguns meses que não tinha evidência que respaldasse os artigos de Die Welt, enquanto o governo venezuelano negou enfaticamente sua existência.

“Nós desmentimos que em Paraguaná haja uma instalação militar de país estrangeiro”, assegurou o vice-presidente Elías Jaua. “Já havia sido lançada em dias anteriores, uma destas panelas que o império norte-americano fabrica em seus laboratórios de guerra suja, para continuar agredindo a Venezuela”. Não obstante, o diário alemão reportou que um grupo de engenheiros de Jatam, a Guarda Revolucionária Iraniana, e uma empresa de construção de propriedade de Al-Anbia, visitaram as instalações que estão sendo construídas na península em várias ocasiões.

Uma destas visitas foi realizada em fevereiro, na qual teria participado o comandante da Força Aérea da Guarda Revolucionária Iraniana, Amir Al-Hadschisadeh, que aprovou os planos junto com os sócios venezuelanos. A intenção expressa nessa ocasião pela delegação iraniana, era a de desenvolver uma infra-estrutura de proteção contra ataques aéreos. Também está prevista a criação de uma estação de comando e controle, a construção de zonas residenciais, torres de vigilância e bunkers para eventualmente armazenar ogivas nucleares, combustível de foguetes e outros elementos, assinalou o diário.

Os planos da empresa de construção Jatam Al-Anbia incluem um sistema oculto para o derramamento de gases tóxicos, precaução necessária para manter em segredo a localização da instalação, sem chaminés ou árvores de grande ventilação detectáveis desde o ar. De acordo com a informação do diário alemão, a delegação iraniana também obteve dinheiro em espécie para gastos iniciais do projeto durante sua visita à Venezuela.


Tradução: Graça Salgueiro


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