Por PercivalPuggina
Estou falando dos
membros das instituições. Dos órgãos do Estado, do governo, do parlamento, da
justiça. Para esse específico e decisivo conjunto de pessoas, de autoridades,
tudo está muito bem. Não têm do que se queixar. Os vencimentos são bons, os
subsídios idem, prerrogativas e privilégios também, o modelo lhes garantiu acesso
aos postos que ocupam, as regras do jogo lhes foram convenientes. Em grande
parte, conquistaram suas posições com méritos intelectuais nos postos ocupados
por concurso, e por méritos políticos nos postos eletivos ou de indicação. Tudo
está no seu lugar e todos estão onde querem. Deixa tudo como está!
Esse tem sido um
clássico entre os problemas brasileiros. Muda-se apenas o mínimo necessário
para que nada mude, como já disse alguém. Estamos em meio a uma crise cujos
promotores são conhecidos e sobre cujas causas ninguém tem dúvidas. Tudo vai
mal para quase todos. Mas tudo vai bem para quem decide sobre quaisquer
mudanças e sobre os rumos a serem dados ao país. Provavelmente, os
"honorable gentlemen", como diria Churchill a eles se referindo,
ouviram dizer que a sociedade se inquieta. Escutaram panelaços. Souberam que o
povo saiu às ruas. Perceberam que a eleição e a apuração dos votos de outubro
de 2014 transcorreram numa caixa preta. Têm consciência de que quem venceu
mentiu mais que o capeta e alcançou seus fins pelos piores meios. Não
desconhecem que há um escândalo em cada esquina. Acham o juiz Sérgio Moro um
chato de galocha. Mas a experiência lhes ensinou que o melhor remédio, para
quem não quer marola, vem com um dia depois do outro.
Eis aí o motivo
pelo qual nada está acontecendo, embora todos esperem que algo aconteça. Por
mais que as circunstâncias favoreçam seu trabalho, nem mesmo a dita oposição se
atreve a cumprir seu papel. No Congresso Nacional, ela, a oposição, é a turma
do "deixa disso!". Quando o clima esquenta, os caciques botam fogo.
No cachimbo da paz, quero dizer. E trocam apaziguadoras baforadas. Os
"honorable gentlemen" vão muito bem, obrigado, e nada têm a reclamar.
As eventuais dificuldades pessoais se decidem com alguma leizinha privada, em
benefício próprio, de comum acordo, porque nada é mais sagrado do que o bem
estar e o estar bem nas instituições da República.
A conivência e a
conveniência, vêm sustentando a hegemonia de um projeto de poder que já não
esconde a que veio. Quem acha que nada deve mudar, em breve verá tudo mudado.
Saiba, portanto, o leitor: em tais condições, nada serve melhor à ruína do país
que a modorra institucional, que o conformismo dos tíbios e o silêncio dos
omissos. Espero que o Congresso do PT desperte as instituições para seus
compromisso com o bem do país, que não pode ser boi de canga para um projeto
totalitário de poder.
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Percival Puggina
(70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e
escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas
de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a
tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar.
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