“Atenção, pessoal”, ergue a voz o jovem de pé num salão do
restaurante Varanda, na zona sul de São Paulo, depois de chamar a atenção dos
clientes batendo numa taça que segura com a mão esquerda a faca que a direita
empunha. “Temos aqui a ilustre presença do ex-ministro da Saúde Alexandre
Padilha, que nos brindou com o programa Mais Médicos, da presidente Dilma
Rousseff…”, informa, voltando-se para a mesa no fundo.
Lá está o candidato a governador do PT surrado em outubro
nas urnas paulistas ─ escoltado, evidentemente, pelo inevitável bando de
assessores (ou amigos que também amam refeições financiadas pelos pagadores de
impostos). O que parece uma saudação em seu começo se transforma numa curta e
desconcertante manifestação de protesto com o lembrete que completa a frase.
A continuação do improviso lembra que Padilha é “responsável
por gastos de 1 bilhão que nós todos aqui, otários, pagamos até hoje”. O mantra
empoeirado que um dos acompanhantes do ex-ministro recita ─ “33 milhões foram
atendidos” ─ é silenciado pelas vozes e palmas da plateia. “Parabéns,
ministro!”, ouve-se o cumprimento sarcástico. Aconselhado pela prudência, o
alvo da ironia permanece calado.
O incidente ocorrido nesta sexta-feira abreviou o almoço do
atual Secretário de Relações Governamentais da prefeitura da capital. A julgar
pela agenda oficial, sobrava-lhe tempo para saborear as carnes da estrelada
churrascaria. As anotações divulgadas no site previam apenas um compromisso no
turno da manhã: “09h00 – Despachos interno” ─ assim mesmo: interno, com a
amputação sem anestesia do S que aparece em despachos. A tarde seria igualmente
mansa: “15h00 – Reunião com Organizações Sociais – Padre Jaime – Local:
Sociedade Santos Mártires – Jd. Ângela”. E só.
Os devotos da seita lulopetista foram desterrados há meses
das ruas de São Paulo. E os sacerdotes celebrantes de missas negras, como
atesta o vídeo, já não conseguem sequer almoçar em paz quando incursionam por
lugares públicos. A cena protagonizada por um anônimo indignado é mais que um
ato de protesto. É uma lição oportuníssima: em vez de esperar que a oposição
oficial faça o que não fará, a oposição real deve fazer o que é preciso para
que os farsantes entendam que a farra está chegando ao fim.
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