Onde reina a dissipação mental, asnos pontificam — não raro com ar afetado de
circunspecção, indigerível para qualquer pessoa com dois dedos de miolos e um
pouco de bom senso. Assim é o Facebook: com volúpia opiniática imparável,
verdadeiras cavalgaduras desembestam certezas sobre os mais variados assuntos,
com o entusiasmo insano de quem atirasse blocos de granito à cabeça de inimigos
imaginários. Não conseguem apresentar os seus argumentos sem denegrir outras
pessoas, e aqui se vê a nota distintiva do caráter desses indivíduos audazes:
se ninguém os lisonjeia, eles próprios encarregam-se de fazê-lo, sem qualquer
sinal detectável de pudor.
Por trás do teclado dos computadores de onde reinventam a roda e o
mundo, são Hércules invencíveis pessoalmente, costumam ser libélulas a esvoaçar
tímidas em torno do próprio ego. A distância, atroam de perto, esganiçam.
Começam por fazer alusões maldosas em postagens enigmáticas, depois passam à
detração enviesada, até que, flagrados em delito de inveja ou de ódio, são impelidos
a mostrar o estado tétrico de suas almas.
Quando porém se trata de julgar moralmente as atitudes alheias, sob a
proteção reconfortante proporcionada pelo evanescente universo virtual, essas
libélulas tornam-se carniceiras, agem como urubus esfomeados. Julgam-se no
direito de cobrar condutas de pessoas cujas motivações nem de longe vislumbram.
Trombeteiam juízos definitivos que, de alguma maneira, mancham a honra alheia,
o que pouco se lhes dá a reputação do próximo é um conceito abstrato inalcançável
para quem chafurdar transformou-se em ofício.
O Facebook é hoje a tribuna das susceptibilidades eriçadas, dos ataques
enraivecidos, do desnudamento involuntário de vaidades letais, do
entretenimento de sádicos e psicóticos, da incivilidade ostentada como coragem.
Quem nele entra para ver e fazer coisas boas, aprenda a ser seletivo e
tenha cuidado: a péssima companhia virtual tem o condão de se fazer
virtualmente onipresente.
Em tais casos, não tem pé-de-pato-mangalô-três-vezes que dê jeito.
Só Deus pode afastar o encosto!
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Sidney Silveira é professor e edita o blog Contra Impugnantes.
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