Os números da Petrobras que vieram a público não derivam de
uma tramoia urdida pela oposição. Também não decorrem de alguma armação
orquestrada por adversários do estatismo. Aldemir Bendine, atual presidente da
empresa, que acompanhou a confecção do balanço, é um petista com extensa folha
de serviços prestados ao petismo. Foi posto na estatal para, vamos dizer,
arranjar as coisas: nem poderia ser inconvincente a ponto de o mercado dar de
ombros e considerar o balanço uma empulhação; nem poderia ser, vamos dizer, de
um realismo cru.
E foi esse misto de realismo e prudência industriada que
produziu, ainda assim, números espantosos: o prejuízo da Petrobras, no ano
passado, foi R$ 21,587 bilhões. O custo-corrupção, por enquanto, está em R$
6,194 bilhões. A revisão dos ativos levou a uma baixa de R$ 44,636 bilhões. O
ano passado terminou com a empresa devendo R$ 351 bilhões. O irrealismo, ou surrealismo, em que a
empresa estava metida era de tal ordem que o mercado internacional até que
reagiu bem aos números. Talvez aconteça o mesmo por aqui nesta quinta.
Atenção, meus caros! A admissão desses números não decorreu
de uma iniciativa interna, dos comandantes da empresa, do governo, das
autoridades públicas responsáveis pela área. Tratou-se de uma imposição da
consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC) para continuar a auditar o balanço.
Eis aí o resultado de 12 anos de gestão petista. Como
ignorar que o modelo de eficiência e gestão da Petrobras, cantado em prosa e
verso, permitiu que a empresa se tornasse um covil, uma associação criminosa,
um valhacouto, um abrigo de larápios? E sempre caberá a pergunta óbvia e
obrigatória: onde mais?
E que se note: a empresa não exibe esses resultados
desastrosos apenas por causa da corrupção. A ela se somam também a má gestão,
as decisões equivocadas, a tacanhice ideológica e a vigarice intelectual. A
Petrobras chega à pior situação de sua história — trata-se da petroleira mais
endividada do planeta — porque o petismo usou o preço do combustível para
compensar sua política econômica canhestra e caduca. Agora mesmo, enquanto
escrevo, a estatal vende combustível com prejuízo em razão da questão cambial.
Isso será corrigido?
É preciso ir além. Dados os números, a empresa terá de
vender ativos e, por óbvio, não poderá arcar com as obrigações que lhe impõe o
regime de partilha do pré-sal. Mas a estupidez e a ideologia barata continuarão
a deitar a sua sombra sobre a racionalidade.
O passado da Petrobras, mesmo com um encontro de contas, que
acabará sendo recebido até com boa vontade pelo mercado, é esse que vemos, com
tais números. Mas que futuro aguarda a empresa brasileira? Basta olhar para o
mercado mundial de petróleo para constatar que o nacionalismo bocó, misturado
com a ladroagem mais nefasta, conduz a Petrobras à inviabilidade.
Eu poderia deixar barato, mas não vou, não. Dilma é a
chefona do setor energético — e também da Petrobras — há 12 anos. Está no
13º. Esta senhora só admitiu que poderia
haver algo de errado na empresa 15 dias antes da eleição — e ainda o fez de
modo oblíquo. Em 2009, já pré-candidata
à Presidência, a então chefe da Casa Civil foi a público para tentar implodir,
e conseguiu, a CPI da Petrobras.
Vejam o vídeo abaixo. Eu transcrevo a sua fala em seguida.
“Eu acredito que a Petrobras é uma empresa tão importante do
ponto de vista estratégico, no Brasil, mas também por ser a maior empresa, a
maior empregadora, a maior contratadora de bens e serviços e a empresa que,
hoje, vai ocupar cada vez mais, a partir do pré-sal, espaço muito grande, né?,
ela é uma empresa que tem de ser preservada. Acho que você pode, todos os
objetos, pelo menos os que eu vi da CPI, você pode investigar usando TCU e o
Ministério Público. Essa história de falar que a Petrobras é uma caixa-preta…
Ela pode ter sido uma caixa-preta em 97, em 98, em 99, em 2000. A Petrobras de hoje é
uma empresa com um nível de contabilidade dos mais apurados do mundo. Porque,
caso contrário, os investidores não a procurariam como sendo um dos grandes
objetos de investimento. Investidor não investe em caixa-preta desse tipo.
Agora, é espantoso que se refiram dessa forma a uma empresa do porte da
Petrobras. Ninguém vai e abre ação na Bolsa de Nova York e é fiscalizado pela
Sarbanes-Oxley e aprovado sem ter um nível de controle bastante razoável”.
Nota: Sarbanes-Oxley é o nome de uma lei dos EUA (formado a
partir dos respectivos sobrenomes de um senador e de um deputado), de 2002, que
estabelece mecanismos de transparência contábil para as empresas que operam na
Bolsa dos EUA.
Enquanto Dilma dizia essas coisas, os ratos corroíam a
Petrobras.
Convenham: quando menos, Dilma deveria ser enviada para uma
cadeia moral, não é mesmo?
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