Por Maria Lucia Victor Barbosa
Mario Vargas Llosa, escritor peruano e Prêmio Nobel de
literatura, em artigo publicado pelo O Estado de S. Paulo em 08 de fevereiro de
2015, discorreu sobre suicídio político, que é de teor coletivo e “praticado
nos países que, presos de um desvario passageiro ou prolongado, decidem
empobrecer-se, barbarizar-se, corromper-se ou todas essas coisas juntas”.
Vargas Llosa cita como exemplos desse tipo de suicídio na
Europa, Hitler e Mussolini “que chegaram ao poder por vias legais e um bom
número de países centro-europeus que se atiraram nos braços de Stalin sem
maiores pudores”. Na atualidade o escritor aponta a Grécia, “que em eleições
livres acaba de levar ao poder o Syriza, um partido demagógico e populista de
extrema esquerda que se aliou para governar com um pequeno grupo de direita
ultranacionalista e antieuropeu”.
Como latino-americano Llosa não podia deixar de dizer que em
matéria de suicídio político “a América Latina é pródiga em exemplos trágicos”.
Ele analisa especialmente a Argentina na fase peronista que arruinou o país
antes considerado de Primeiro Mundo, mas absteve-se de falar no atual e
desastroso governo de Cristina Kirchner. Focou também na Venezuela sob o
comando do caudilho messiânico, Hugo Chávez, sucedido por Nicolás Maduro “que
embora inepto para tudo o mais, na hora de fraudar eleições, encarcerar,
torturar e assassinar opositores,” não vacila.
Sem dúvida a América Latina é pródiga em suicídios políticos
e muitos outros exemplos podem ser dados. Entre eles o do Brasil que
recentemente cometeu quatro suicídios políticos ao eleger petistas.
Lula da Silva foi presidente de direito durante dois
mandatos e presidente de fato na gestão de Dilma Rousseff, assim continuando no
mandato que ora se inicia. E ele não pretende apear do cargo mais alto da
República, pois avisou que já está a postos para dar continuidade ao seu
longevo poder, em 2018.
Esta sequência que visa à hegemonia petista confirma a
profecia de José Dirceu, o Bob como é conhecido nas lides criminosas do
petrolão e que praticamente está livre da Papuda depois de ter sido o cérebro
do esquema igualmente criminoso do mensalão. Talvez, os 20 anos previstos por
Dirceu ainda sejam poucos. Quem sabe ele
próprio retome a carreira interrompida e entre em campanha para se eleger
presidente da República em 2022. Afinal, a propensão para suicídios políticos
na América Latina é arraigada.
A questão é que os caminhos da vida e das sociedades ainda
são mutáveis, imprevisíveis e complexos, antes que os avanços tecnológicos
confirmem um mundo inteiramente controlado que aparece nos livros e filmes de
ficção. No nosso caso o dinamismo social,
político e econômico está trazendo complicações que se antepõe ao projeto
petista de poder.
O primeiro mandato de Lula da Silva foi fácil. Ele singrou
nas águas da estabilidade econômica obtida pelo Plano Real de FHC. Pareceu
excelente para os pobres das bolsas esmola e para os ricos banqueiros,
empreiteiros, enfim, para a “dona zelite” que lucrou como nunca antes nesse
país. O período foi cantado em verso e prosa pelo ególatra, tido pelo povo como
um operário pobrezinho que logrou chegar lá. Contudo, no decorrer do tempo o
partido autointitulado como o único ético, puro, aquele que vinha para mudar o
que estava errado, extrapolou em escândalos de corrupção e na incompetência
governamental.
Nos quatro anos de Rousseff o processo de arrebentar a
economia se consumou, o que pode ser simbolizado pela devastação da Petrobras
assaltada pelo PT e companheiros. Como não podia deixar de ser caiu
vertiginosamente a aprovação da criatura, enquanto no Congresso surgiu uma
verdadeira oposição liderada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Para
piorar, o desenrolar da operação Lava Jato vai se aproximando perigosamente de
Lula da Silva e de Rousseff.
Como não podia deixar de ser, o presidente de fato entrou em
campo. Junto com o ministro da Justiça e outros tenta influir na Operação Lava
Jato para anular as delações feitas. Pede também o impossível a Rousseff: que
ela seja simpática e dialogue com os partidos, com os movimentos sociais, com
governadores e prefeitos.
Lula pode até conseguir algumas coisas, exceto mudar
instantaneamente a insatisfação popular com a economia e controlar a ação
judicial contra a PTbras aberta por acionistas americanos que se sentiram
roubados.
Lembra um amigo meu, que um bilionário chamado Madoff deu um
gigantesco golpe em investidores americanos.
Em dois anos foi julgado, condenado e preso nos Estados Unidos. Hoje,
aos 80 anos, trabalha na lavanderia da prisão. Se viver mais 30 anos, sairá,
mas é pouco provável. Vai ver, que o grande temor de Lula, Rousseff e demais
companheiros é a lavanderia, único meio de impedir que brasileiros cometam
outro suicídio politico.
Publicado originalmente no site A Verdade Sufocada
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Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga
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