Por Thiago Cortês
Deputado Federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) |
Será que estamos diante de um caso clássico de aparelhamento
de um órgão público por um lobby político organizado, neste caso o lobby LGBT?
O que aconteceria se um órgão público que deveria primar
pela imparcialidade decidisse assumir o ônus de uma ação que ganhou forte
repercussão negativa apenas para poupar a imagem de um deputado
conservador / cristão / oposicionista?
Pois é no mínimo “curioso” o relacionamento entre o deputado
federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) e o Ministério Público do Distrito Federal e
Territórios (MPDFT).
Mas antes de ingressar nos labirintos tortuosos desta
relação (de amor?) entre o MPDFT e Jean Wyllys, vamos recapitular alguns fatos
do primeiro mês deste ano promissor.
No dia 22 de janeiro, na Sociedade de Estudos Bíblicos
Interdisciplinares, na cidade de Taguatinga, no Distrito Federal, acontecia o
curso “Homossexualismo: ajudando, biblicamente, a prevenir e tratar aqueles que
desejam voltar ao padrão de Deus para sua sexualidade”, voltado exclusivamente
para lideranças evangélicas.
Por volta das 21h30, os palestrantes Airton Williams e
Claudemir Ferreira Soares foram notificados a comparecer ao Ministério Público
do Distrito Federal e Territórios para prestar esclarecimentos sobre o curso. O
MPDFT recebeu “denúncias” contra o curso que supostamente oferecia tratamento
aos homossexuais — o que se revelou uma mentira.
O caso ganhou repercussão nacional. E o paladino das
minorias, excelentíssimo deputado Jean Wyllys, reclamou para si o papel de
protagonista deste ataque à liberdade religiosa.
Dias antes da realização do curso, em 21 de janeiro, Jean
Wyllys trombeteou em sua fanpage que acionaria vários órgãos, incluindo o Ministério Público, contra o referido
evento. Jean Wyllys citou nominalmente o MPDFT e disse que o órgão “tinha que
se posicionar”.
E justamente no dia 22, quando os palestrantes Airton
Williams e Claudemiro Soares foram notificados para prestar esclarecimentos,
Jean Wyllys publicou no site IG sua coluna “Não há limites para o
charlatanismo!”, assumindo a autoria de uma das denúncias contra o curso.
E mais: um dia após os palestrantes terem sido notificados,
em 23 de janeiro, Jean Wyllys usou sua fanpage para se auto-parabenizar pelo
“fechamento” do curso voltado para pastores no Distrito Federal. Ele comemorou
o fato e elogiou a presteza do MPDFT.
Repercussão negativa e mudança de discurso
Contudo, após a fortíssima repercussão negativa que o caso
tomou a nível nacional — especialmente quando Jean Wyllys creditou o
“fechamento” do curso à sua intervenção junto ao MPDFT — os discursos mudaram
radicalmente.
Em nota enviada ao site Gospel Prime, o MPDFT pediu uma
“errata” para um texto de minha autoria, “A pedido de Jean Wyllys, MP interrompe curso para pastores sobre temática gay”, no qual eu simplesmente
reproduzi as afirmações do próprio Jean Wyllys.
Para a minha surpresa, o MPDFT contradisse o deputado
federal. O órgão afirmou que NÃO agiu a pedido do parlamentar na polêmica do curso sobre temática gay. E que, ao contrário do que Jean Wyllys postou sem sua
fanpage (quando comemorou em “fechamento” do curso), não “houve ordem ou
recomendação de interrupção do referido curso”:
O MPDFT recebeu duas representações relacionadas ao curso,
sendo uma anônima, oriunda da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (Disque
100), e outra enviada pelo CREAS da Diversidade da SEDEST/GDF. Ambas
solicitavam o esclarecimento do tratamento oferecido no curso e eventual ação
do Ministério Público para a sua interrupção.
Não foi o que declarou, em diferentes ocasiões, o deputado
Jean Wyllys.
Assumiu o prejuízo?
Fica a pergunta: será que depois de toda a repercussão
negativa que a interrupção do curso ganhou, especialmente entre os cristãos, o
MPDFT quis livrar a barra de Jean Wyllys?
Será que o órgão agiu de forma deliberadamente política,
primeiro acatando os caprichos do deputado e depois — quando a coisa ficou
começou a ficar muito feia — declarando que o parlamentar não tinha ligação
alguma com o episódio?
É importante frisar que antes que pipocassem críticas
negativas contra a absurda intervenção do Estado no evento, Jean Wyllys fez
questão de assumir a autoria de uma das denúncias e ainda comemorou o
“fechamento do curso”, nas palavras do próprio deputado.
E, coincidentemente ou não, o MPDFT só veio a público dizer
que agiu sozinho depois que Wyllys se viu na condição de alvo das críticas em
sua própria fanpage. Daí tudo mudou!
Será que estamos diante de um caso clássico de aparelhamento
de um órgão público por um lobby político organizado, neste caso o lobby LGBT?
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Thiago Cortês, jornalista, escreve no blog Descortês.
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