Lula e o sócio Paulo Okamoto: empresas corruptoras
querem
evitar o “colapso” Foto: André Dusek/Estadão
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Investigadas na Lava- Jato cobram proteção a Lula e ao sócio
Okamoto
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu sócio Paulo
Okamotto, presidente do Instituto Lula, têm recebido pessoalmente desde o fim
do ano passado emissários de empreiteiros que são alvo da Operação Lava-Jato.
Preocupados com as prisões preventivas em curso e com as consequências
financeiras das investigações, executivos pedem uma intervenção política de
Lula para evitar o colapso econômico das empresas.
Okamotto admitiu ter recebido “várias pessoas” de empresas
investigadas na Lava- Jato. O jornal O Estado de S. Paulo ouviu relatos de
interlocutores segundo os quais, em alguns momentos, empresários chegaram a dar
um tom de ameaça às conversas.No fim do ano passado, João Santana, diretor da
Constran, empresa do grupo UTC, agendou um encontro com Lula – o presidente da
UTC, Ricardo Pessoa, foi preso pela Lava-Jato e é apontado como coordenador do
cartel de empreiteiras que atuava na Petrobrás.
Santana foi recebido por Okamotto. A conversa foi tensa. A
empreiteira buscava orientação do ex-presidente. Em 2014, a UTC doou R$ 21,7
milhões para campanhas do PT – R$ 7,5 milhões em apoio à reeleição da
presidente Dilma Rousseff. Indagado sobre o encontro com o diretor, Okamotto
admitiu o pedido de socorro de Santana. “Ele queria conversar, explicar as
dificuldades que as empresas estavam enfrentando. Disse: ‘Você tem de procurar
alguém do governo’”, contou o presidente do Instituto Lula.
“Ele estava sentindo que as portas estavam fechadas, que
tudo estava parado no governo, nos bancos. Eu disse a ele que acho que ninguém
tem interesse em prejudicar as empresas. Ele está com uma preocupação de que
não tinha caixa, que tinha problema de parar as obras, que iria perder, que
estava sendo pressionado pelos sócios, coisa desse tipo”, disse Okamotto. A
assessoria de imprensa da Constran nega o encontro.
A força-tarefa da operação prendeu uma série de executivos
de empreiteiras em 14 de novembro, na sétima fase da Lava-Jato. Um deles era o
presidente da OAS, Léo Pinheiro. Antes de ser preso, ele se encontrou com Lula
para pedir ajuda em função das primeiras notícias sobre o conteúdo da delação
premiada do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa que implicavam sua
empresa. Lula e Pinheiro são amigos desde a época de sindicalista do
ex-presidente petista, que negou ter mantido conversas sobre a Operação
Lava-Jato com interlocutores das empresas.
Estratégias comuns
A cúpula das empreiteiras também tem feito reuniões entre si
para avaliar os efeitos da Lava-Jato. Após a prisão dos executivos, o fundador
da OAS, César Mata Pires, procurou Marcelo Odebrecht, dono da empresa que leva
seu sobrenome, para saber como eles haviam se livrado da prisão até agora.
Embora alvo de mandados de busca e de um inquérito da Polícia Federal, a
Odebrecht não teve nenhum executivo detido na Lava-Jato.Conforme relatos de
quatro pessoas, Pires disse que as duas empresas têm negócios em comum e que a
OAS não assumiria sozinha as consequências da investigação. Ele afirmou ao dono
da Odebrecht não estar preocupado em salvar a própria pele, porque já havia
vivido bastante. Mas não iria deixar que seus herdeiros ficassem com uma
empresa destruída por erros cometidos em equipe.
A assessoria de imprensa da Odebrecht disse que houve vários
encontros entre as duas empresas, mas que nenhum “teve como pauta as
investigações sobre a Petrobrás em si”. O departamento de comunicação da OAS
nega a reunião com a Odebrecht. Em consequência da Operação Lava-Jato, as
empreiteiras acusadas de fazer parte do “clube” que fraudava licitações e
corrompia agentes públicos no esquema de corrupção e desvios na Petrobrás estão
impedidas de participar de novos contratos com a estatal. Com isso, algumas
enfrentam problemas financeiros, o que tem tirado o sono dos donos dessas
empresas. No dia 27 de janeiro, Dilma fez um pronunciamento no qual disse que
“é preciso punir as pessoas”, e não “destruir empresas”.
Críticas
A tentativa de empreiteiras envolvidas na Lava-Jato de pedir
ajuda a agentes políticos já foi condenada pelo juiz Sérgio Moro – responsável
pela operação – ao se referir aos encontros de advogados das empresas com o
ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.
“Trata-se de uma indevida, embora malsucedida tentativa dos
acusados e das empreiteiras de obter interferência política em seu favor no
processo judicial (…) certamente com o recorrente discurso de que as
empreiteiras e os acusados são muito importantes e bem relacionados para serem
processados”, criticou o juiz.(AE)
Publicado originalmente no Diário do Poder
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