Reportagem de Jeferson Ribeiro
BRASÍLIA (Reuters) - A presidente Dilma Rousseff procurou
nesta sexta-feira isentar as empresas dos "malfeitos" investigados
pela operação Lava Jato, da Polícia Federal, dizendo que foram cometidos por
funcionários e que o governo trata dessa questão considerando a necessidade de
geração de empregos e renda.
Questionada sobre a possibilidade de as empresas envolvidas
nas investigações fecharem um acordo de leniência com o governo para manter
seus contratos de obras públicas e não serem declaradas inidôneas, Dilma disse
que não cabia a ela comentar.
Um ministro do governo disse à Reuters na quinta-feira, sob
condição de anonimato, que já há consultas informais de algumas empresas sobre
um possível acordo de leniência.
"O que o governo fará é tudo dentro da legalidade. Nós
iremos tratar as empresas tentando, principalmente, considerar que é necessário
criar emprego e gerar renda no Brasil", disse a presidente na primeira
conversa com jornalistas desde que assumiu o segundo mandato.
"Isso não significa, de maneira alguma ser conivente,
ou apoiar ou impedir qualquer investigação ou qualquer punição a quem quer que
seja, doa a quem doer", acrescentou a presidente.
A presidente citou especificamente a Petrobras, que está no
centro de um escândalo bilionário de corrupção envolvendo funcionários,
empreiteiras e políticos. Para Dilma, a empresa não pode ser tratada como se
tivesse cometido irregularidades, que foram praticadas por funcionários seus.
"Os donos das empresas ou os acionistas das empresas
serão investigados, porque a empresa não é ente que esteja desvinculado de seus
acionistas", disse.
"Eu não vou, por exemplo, tratar a Petrobras como a
Petrobras tendo praticado malfeitos, quem praticou malfeitos foram funcionários
da Petrobras que vão ter de pagar por isso", disse a petista.
IR
A presidente disse ainda que o governo vai propor novamente
ao Congresso a atualização da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física em
4,5 por cento. Essa será a terceira vez que o governo propõe esse patamar de
reajuste.
Na última tentativa, o Congresso alterou o percentual para
6,5 por cento e Dilma vetou a mudança. O veto será analisado pelos
parlamentares nas próximas semanas.
Dilma disse que se o veto for derrubado vai lamentar.
"Sinto muito", disse. "Não estamos vetando porque queremos, nós
estamos vetando porque não cabe no Orçamento público", argumentou.
BENEFÍCIOS TRABALHISTAS E PREVIDENCIÁRIOS
Dilma também indicou que as mudanças propostas pelo governo
no acesso a alguns benefícios trabalhistas e previdenciários no final do ano
passado serão alvo de mudanças, após as negociações com o Congresso e com as
centrais sindicais, que têm resistido às novas restrições apresentadas por
medida provisória.
"Eu acho que sempre há negociação, ninguém acha que num
país democrático como o Brasil, que tem um Congresso livre, que tem movimentos
sociais sendo ouvidos e com os quais você dialoga, seja algo fechado que não há
negociação, sempre há negociação", afirmou Dilma, ao ser questionada sobre
as resistências às mudanças até mesmo entre os partidos aliados no Congresso.
Editadas pelo governo como parte do esforço para colocar as
contas públicas em ordem, as duas MPs que alteram as regras de acesso a
benefícios trabalhistas e previdenciários aguardam votação no Congresso para se
tornarem leis definitivas.
"Mas também há posições claras", disse. "Os
diferentes agentes e participantes têm de mostrar com clareza quais são as
posições que têm e qual objetivo. Só ser contra por ser contra também
não", disse.
"Com argumentos e com fundamentos você chega sempre a
uma boa solução", afirmou.
Publicado originalmente nos site Reuters Brasil
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