Por Ion Mihai Pacepa
É hora de tirar a sorridente máscara de Che e revelar a sua
verdadeira face.
Hollywood se despede de 2009 com uma fraude monumental: o
épico Che, de Steven Soderbergh, com quatro horas de duração, em Castelhano,
transformando um assassino marxista sádico num, de acordo com o New York Times,
“genuíno revolucionário durante as estações do seu martírio”. [1] A palavra
“estações” faz referência a Cristo nas Estações do Calvário – a Via
Crucis. O protagonista do filme, Benicio
del Toro, realmente comparou “o herói revolucionário cubano Ernesto Che
Guevara” a Jesus Cristo. [2]
O Che de Soderbergh é uma ficção criada pela comunidade KGB,
da qual fez parte o serviço de espionagem romeno ao qual pertenci – o DIE –
numa época que me coloca diretamente na trama. O Che real foi um assassino que
comandou pelotões de fuzilamento comunistas e fundou o terrível gulag cubano.
Foi também um covarde que obrigou os outros a lutar até a morte pela causa
comunista e que mandou para o patíbulo centenas de pessoas que se recusaram a
fazê-lo, mas que se rendeu sem luta ao exército boliviano embora estivesse
armado até os dentes. “Não me matem” implorou Che aos seus captores. “Valho
mais vivo do que morto”. [3] O filme de Soderbergh omite este episódio – o qual
demoliria o seu Che.
Eu poderia escrever um livro sobre como o terrorista Che foi
transformado num ídolo esquerdista inspirador – como um belo príncipe emergindo
lindamente de uma repulsiva lagarta – e pode ser que o faça algum dia. Por
enquanto, aqui vai um resumo de como a KGB criou o seu Che de ficção.
Na década de 1960,
a popularidade do bloco soviético estava em baixa. A brutal repressão
soviética ao levante húngaro de 1956 e o seu papel na crise dos mísseis cubanos
de 1962 enojaram o mundo, e cada um dos ditadores dos países satélites
soviéticos tentou se safar como pôde. Khrushchev substituiu a “imutável” teoria
marxista-leninista da revolução proletária mundial pela política de
coexistência pacífica e fingiu ser um defensor da paz. Dubcek apostou num
“socialismo com face humana” e Gomulka no lema “deixe a Polônia ser a Polônia”.
Ceausescu proclamou a sua “independência” de Moscou e se retratou como um
“dissidente” dentre os líderes comunistas.
Os irmãos Castro, que temiam qualquer tipo de liberalização,
decidiram apenas maquiar, com uma romântica fachada revolucionária, o seu comunismo
desastroso que estava matando o país de fome. Escolheram Che como garoto
propaganda, já que ele havia sido executado na Bolívia – na época um aliado dos
EUA – e assim podia ser retratado como um mártir do imperialismo americano.
A “Operação Che” foi lançada mundialmente pelo livro
“Revolution in the Revolution” – uma cartilha para insurreição guerrilheira
comunista escrito pelo terrorista francês Régis Debray – que elevou Che aos
altares. Debray dedicou a sua vida a exportar a revolução estilo cubano por
toda a América Latina; em 1967, entretanto, uma unidade das forças especiais
bolivianas treinada pelos EUA o capturou, juntamente com todo o bando
guerrilheiro de Che.
Che foi sentenciado à morte e executado por terrorismo e
assassinato em massa.
Debray foi sentenciado a 30 anos de prisão mas foi libertado
depois de três anos devido à intervenção do filósofo francês Jean Paul Sartre,
um comunista romanticamente envolvido com a KGB, que também era o ideólogo do
bando terrorista Baader-Meinhof. Sartre aclamou Che Guevara como “o ser humano
mais completo do nosso tempo”. [4] Em 1972, Debray retornou à França, onde
trabalhou como conselheiro para a América Latina do presidente François
Mitterrand, e dedicou o resto da vida a disseminar o ódio contra os Estados
Unidos.
Em 1970, os irmãos Castro elevaram a santificação de Che a
um novo patamar. Alberto Korda, oficial da inteligência cubana trabalhando
secretamente como fotógrafo para o jornal cubano Revolución, produziu uma foto
romantizada de Che. Aquele Che agora famoso, com longos cabelos ondulados e
usando uma boina com estrela, olhando diretamente nos olhos de quem o vê, é o
logo de propaganda do filme de Soderbergh.
É de se notar que esta foto de Che foi apresentada ao mundo
por um agente da KGB trabalhando secretamente como escritor – I. Lavretsky –,
num livro intitulado “Ernesto Che Guevara”, editado pela KGB. [5] A KGB chamou
a foto de “Guerrillero Heroico” e a espalhou por toda a América do Sul – área
de influência de Cuba. O editor milionário italiano Giangiacomo Feltrinelli,
outro comunista romanticamente envolvido com a KGB, inundou o resto do mundo
com a imagem de Che impressa em cartazes e camisetas. O próprio Feltrinelli
virou terrorista e foi morto em 1972 enquanto plantava uma bomba nos arredores
de Milão.
Ouvi o nome de Che pela primeira vez em 1959, da boca do
general Aleksandr Sakharovsky, antigo chefe da inteligência soviética e
conselheiro para a Romênia, que mais tarde dirigiu a “revolução” dos Castro e
foi recompensado com a promoção a chefe da toda-poderosa organização de
inteligência estrangeira soviética, posição que manteve por quinze anos. Ele
chegou a Bucareste com o seu chefe, Nikita Khrushchev, para conferências sobre
Berlim Oriental e sobre a “nossa Gayane cubana”. Gayane era o codinome geral para
a operação de sovietização da Europa Oriental.
Na época, a burocracia soviética acreditava que Fidel Castro
era apenas mais um aventureiro, e relutava em apoiá-lo. Mas Sakharovsky
havia ficado impressionado com a devoção ao comunismo do irmão de Fidel, Raul,
e do seu tenente, Ernesto Guevara, e fez deles os principais protagonistas da
“nossa Gayane cubana”. Os dois foram levados a Moscou para serem doutrinados e
treinados, e ganharam um conselheiro da KGB.
De volta a Sierra Maestra, Che provou ser um verdadeiro
assassino sangue frio nos moldes da KGB – responsável pela morte de mais de 20
milhões de pessoas apenas na União Soviética. “Meti uma bala de calibre 32 no
lado direito do seu cérebro, que vazou por toda a têmpora” escreveu Che no seu
diário, descrevendo a execução de Eutimio Guerra, um “traidor da Revolução”, a
quem matou em fevereiro de 1957. [6] Guerra era a sétima pessoa a quem Che
matara. “Para enviar homens para o pelotão de fuzilamento não é preciso provas
judiciais”, explicou. “Estes procedimentos são detalhes burgueses obsoletos.
Isso aqui é uma revolução! E uma revolução deve se tornar uma fria máquina de
matar movida por puro ódio.” [7]
No dia 1° de janeiro de 1959, a “Gayane cubana”
venceu, e a KGB encarregou Che de limpar Cuba dos “anti-revolucionários”. Milhares de pessoas foram enviadas para “el
paredón”. Javier Arzuaga, capelão da prisão Al Cabaña no início de 1959,
escreveu em seu livro “Cuba 1959: La
Galeria de la
Muerte” ter testemunhado “o criminoso Che” ordenando a
execução de cerca de duzentos cubanos inocentes. “Argumentei diversas vezes com
Che a favor dos prisioneiros. Lembro-me especialmente de Ariel Lima, um garoto
de apenas 16 anos. Che estava obstinado. Fiquei tão traumatizado que em maio de
1959 recebi ordens para deixar a paróquia Casa Blanca, onde ficava La Cabaña … Fui para o México
receber tratamento.” [8]
De acordo com Arzuaga, as últimas palavras de Che para ele
foram: “Quando tirarmos nossas máscaras, seremos inimigos”. [9] É hora de tirar
a sorridente máscara de Che e revelar a sua verdadeira face. O Memorial Cubano
no Parque Tamiami, em Miami, contém centenas de cruzes, cada uma com o nome de
uma pessoa identificada, vítima do terror comunista de Raul e Che. [10]
Também é tempo de interromper a mentira de trinta anos,
reforçada pelo filme de Soderbergh, de que os irmãos Castro e o seu carrasco
Che eram nacionalistas independentes. Em 1972, eu estava presente a um discurso
de seis horas no qual Fidel pregou a mesma mentira. No dia seguinte, fui a uma
pescaria com Raul. Havia outro convidado no barco, um soviético que se
apresentou como Nikolay Sergeyevich. O meu colega cubano, Sergio del Valle,
sussurrou no meu ouvido “Aquele é o coronel Leonov”. Anteriormente, ele já
havia explicado para mim que Leonov era conselheiro da KGB para Raul e Che nas
décadas de 1950 e 1960. Lá, naquele barco, para mim ficou claro como nunca que
a KGB estava nas rédas da carruagem revolucionária dos Castro. Dez anos mais
tarde, Nikolay Leonov foi recompensado por seu trabalho de manipulação de Raul
e Che com a promoção a general e representante chefe de toda a KGB.
Na década de 1970,
a KGB era um estado dentro do estado. Hoje, a KGB,
renomeada de FSB, é o estado na Rússia, e o Che de Soderbergh é o maná dos céus
para os representanes dela na América Latina. Meses atrás, duas marionetes do
Kremlin – Hugo Chávez e Evo Morales – expulsaram, no mesmo dia, os embaixadores
americanos de seus países. Milhares de pessoas carregando o retrato do Che de
Soderbergh tomaram as ruas pedindo a proteção militar russa. Navios de guerra
russos estão de volta a Cuba – e, mais recentemente, chegaram à Venezuela –
pela primeira vez desde a crise dos mísseis cubanos.
“A fraude trabalha como cocaína” costumava dizer para mim
Yury Andropov, o pai da contemporânea era russa da fraude, quando ele era chefe
da KGB. Em seguida, explicava: “Se você cheirar uma ou duas vezes, não mudará a
sua vida. Mas, se você usá-la dia após dia, ela fará de você um viciado, um
homem diferente”. Mao tinha a sua própria frase: “Uma mentira repetida centenas
de vezes vira verdade”. O filme de Soderbergh sobre Che prova que ambos estavam
certos.
Che Guevara: Anatomia de um psicopata
______
Notas:
[1] A. O.
Scott, “Saluting the Rebel Underneath the T-Shirt,” The New York Times,
December 12, 2008.
[2]
Guillermo I. Martínez, “Guevara biopic belies his ruthlessness,” The Sun
Sentinel, January 1, 2009, p. 13A.
[3] Idem.
[4] Idem.
[5] I. Lavretsky, “Ernesto Che Guevara, “Progress Publishers,
1976, ASIN B000B9V7AW, p. 5. Initially published in Russian in 1973.
[6] Matthew
Campbell, “Behind Che Guevara mask, the cold executioner,”The Sunday Times,
September 16, 2007.
[7] Mark
Goldblath, “Revenge of Che: no amount of Hollywood
puferry will change the fact that commies aen’t cool,” The Wall Street Journal,
December 19, 2008.
[9] Idem.
[10] Ibidem.
O general Ion Mihai Pacepa é o oficial soviético de mais
alta patente que recebeu asilo político nos Estados Unidos. No Natal de 1989,
Ceausescu e a sua esposa foram executados após um julgamento no qual as
acusações eram, quase palavra por palavra, extraídas do seu livro “Red
Horizons”, subsequentemente traduzido para 27 idiomas.
Tradução: Ricardo Hashimoto, editor do blog Letters ToHungary.